Entenda o seguro paramétrico com Renato da Cunha Bueno
Em entrevista para a TV Sincor-SP, o coordenador da Comissão Riscos de Engenharia e Resseguros do Sincor-SP, Renato da Cunha Bueno Marques, apresentou o seguro paramétrico, uma modalidade ainda pouco conhecida e utilizada no setor, mas que apresenta grandes oportunidades e baixa concorrência. Este seguro protege o produtor rural contra clima adverso, utilizando parâmetros definidos, como temperatura e sinistros.
TV Sincor-SP – Como funciona o seguro paramétrico?
Renato Bueno – Temos que começar falando sobre como o momento é propício para o seguro paramétrico. Em 2021, o mercado teve uma perda enorme. As seguradoras pagaram algo em torno de três vezes o que coletaram de prêmios – sem contar as comissões e tributos. Por outro lado, as commodities que contratam seguros agrícolas valorizaram ao longo do tempo. Logo, em um mercado que teve perdas que levaram à redução de capacidade dos seguradores, com o aumento do valor das commodities, a capacidade para o seguro agrícola pode minguar. Portanto, se alguém chegar tardiamente para contratar um seguro agrícola tradicional, pode ser que não encontre companhia aberta para contratação.
O seguro paramétrico pode ser uma excelente alternativa para essa falta de capacidade e cobrir a lacuna. Outra vantagem interessante é que não há restrição para o tipo de solo, região ou cultura que está sendo processada. Na verdade, o que se vende é o índice climático. No seguro paramétrico é necessário correlacionar os eventos climáticos com as prováveis perdas que o agricultor terá. Isso é definido com um levantamento, em conjunto à seguradora, de, pelo menos, 20 anos do clima da área que será segurada. Com a geolocalização exata da propriedade é possível acessar, por satélites, os índices climáticos diários, construindo uma grade de eventos ao longo do tempo. A partir dessa grade, é traçado um parâmetro que mostra quando os sinistros teriam acontecido e o período crítico. Inclusive, também é possível calcular o cashback.
TV – Existe um momento ideal para a contratação do seguro paramétrico? Qual a região do País com maior demanda pelo serviço?
RB – Pela lógica de operação do mercado, sim. As companhias de seguros que operam no agrícola têm que ter inspetores de risco para análises prévias e reguladores de sinistros. É muito difícil encontrar uma companhia que esteja estabelecida em todo território nacional e que disponha dessa mão de obra, impondo restrições geográficas. O paramétrico, porém, como é operado via satélite, tanto faz o lugar em que é contratado. Sobretudo, ao operar em qualquer tipo de solo, ele se livra de uma série de limitações impostas pelo produto tradicional.
A época certa está relacionada ao ciclo da cultura. As safras de verão, a safrinha do milho, culturas intercaladas… No paramétrico é necessário estar atento ao ciclo natural do cultivo. Há seguro para, praticamente, tudo. Algo interessante sobre o paramétrico, é sua proposta social. Ao contratar o serviço, é possível cobrir perdas advindas de tragédias climáticas, como deslizamentos.
TV – O que o corretor precisa saber para ofertar o seguro paramétrico?
RB – Por se tratar de um seguro sofisticado, o corretor precisa ser especialista em seguros agrícolas. Há anos tenho me preparado para atuar neste segmento. A sugestão que dou é começar a ler, conversar com agricultores e assistir programas rurais. Os canais de distribuição, como cooperativas agrícolas ou revendedores de insumos, também são ótimas fontes de conhecimento.
TV – Como funciona a operação do resseguro? Todo seguro paramétrico tem uma resseguradora por trás?
RB – Sim, 100% dos contratos paramétricos e dos seguros agrícolas têm um ressegurador, que aparece no negócio de duas formas: facultativamente ou fornecendo a capacidade para a companhia de seguros que faz a subscrição em nome do ressegurador.
TV – Como fica a aceitação de riscos pelas seguradoras?
RB – Elas fazem uma seleção e procuram atuar em áreas que a possibilidade de eventos climáticos possa ocorrer. No Sul está sendo mais difícil a contratação por conta do El Niño e da La Niña, mas existem resseguradores especializados.
TV – Como você avalia a aceitação de riscos no mercado? O resseguro pode ser um caminho?
RB – É simples, para aceitar e operar riscos de perdas severas (quando você tem um sinistro e a possibilidade de perca total é grande) é necessário volume. Onde podemos encontrar esse volume de negócios? Em especialistas internacionais através do resseguro. O mercado internacional tem especialistas focados em riscos gravosos e pelo volume de negócios no mundo é possível digerir e aceitar esse tipo de risco.
TV – Como o nosso associado pode entrar em contato com a Comissão de Riscos de Engenharia e Resseguro para tirar dúvidas sobre o assunto?
RB – O colega corretor que tiver interesse no tema pode participar dos nossos Plantões Técnicos. Por lá temos sempre um tempo reservado para perguntas. No site da entidade é possível acessar a agenda e ver os dias e horários dos próximos.