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17.11.2025

Artigo: Um aviso chamado Rio Bonito do Iguaçu

Por Antonio Penteado Mendonça*

As cenas da cidade destruída foram chocantes. De repente uma cidade de 14 mil habitantes simplesmente se transformou num monte de destroços, como se tivesse sido bombardeada durante uma guerra.

O mais impressionante foi ver as pessoas caminhando entre os escombros. Fantasmas, perdidos no meio dos destroços que transformaram suas vidas em poucos minutos, depois da passagem de um tornado, com ventos de mais de 300 quilômetros por hora.

Se precisávamos um aviso, ele não poderia ser mais claro. A natureza está aí, imprevisível, brutal, capaz de matar e destruir, não porque queira mal a humanidade, mas porque as condições climáticas em volta a levam a isso.

Ninguém previu e por isso ninguém avisou que o tornado tinha se formado e que sua rota passava por Rio Bonito do Iguaçu. Quando os moradores da cidade perceberam o que estava acontecendo, já tinha acontecido, a velocidade do fenômeno foi equivalente a velocidade de cruzeiro de um avião de pequeno porte.

Em poucos minutos uma pacata cidade do interior foi destruída pela força incontrolável de um fenômeno climático típico dos Estados Unidos, mas que de tempos em tempos acontece por aqui. Que o diga Indaiatuba, varrida por um tornado de grandes proporções alguns anos atrás, ou São Bernardo do Campo, onde um tornado mostrou sua força levantando enormes caminhões e os jogando longe.

Ainda estamos na antevéspera do verão, a estação em que tradicionalmente os grandes cataclismos acontecem – em tempestades, ventanias e vendavais e seus legados, enchentes, deslizamentos de terra e desmoronamentos. Ainda estamos na antevéspera, mas os 3 tornados que varreram o Paraná são o aviso mais claro e insofismável de que este ano tem tudo para dar ruim, como vem acontecendo regularmente, ano depois de ano, especialmente no sul do país.

O “La Ninã” mais uma vez está aí e com o fenômeno o território brasileiro fica sujeito a eventos catastróficos, que não se resumem as tempestades e vendavais. Secas devastadoras atingem, além dos locais tradicionalmente sujeitos a elas, outras áreas que até poucos anos atrás, não sabiam o que era uma seca.

As apólices de seguros brasileiras oferecem cobertura para tornados, vendavais, tempestades, ventos fortes, granizo, etc., mas as garantias normalmente não são contratadas. Da mesma forma que os seguros para o agronegócio garantem danos causados tanto pelas chuvas como pelas secas.

Acontece que o governo vem reduzindo o subsídio para pagar o seguro rural e o resultado disto é que de 14 milhões de hectares cobertos pelo seguro até alguns anos atrás, este ano deveremos ter apenas 3 milhões de hectares segurados. Vale dizer, um expressivo número de agricultores médios e pequenos estarão sujeitos a perderem suas lavouras e não terem o seguro para ajudá-los a recomeçar.

Entre secos e molhados, o quadro é preocupante e a preocupação vale para a cidade e para o campo. O Brasil está na rota de grandes eventos de origem climática, mas está despreparado para enfrentá-los, seja em ações diretas para minimizar o potencial dos danos, seja com ferramentas como o seguro, para repor aquilo que for destruído.  

* Antonio Penteado Mendonça é escritor, advogado sócio da Penteado Mendonça e Char, formado pela USP, com especialização em Direito Ambiental pelo DSE, na Alemanha, e em Seguros pela FGV-Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Também é professor, palestrante, escritor e ex-presidente da Academia Paulista de Letras.

Fonte: Estadão

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