Venda de seguro e internet
25 de maio de 2017Até que ponto a internet interfere na vida das pessoas? Será que alguém, nos dias de hoje, consegue viver sem, em algum momento ao longo do dia, acessar as redes sociais ou as facilidades que a internet nos proporciona?
Num cenário de uso cada vez mais intenso, com poucas barreiras, baixíssimas restrições, capacidade de ultrapassar as fronteiras, a internet veio para mudar a forma de viver das pessoas. Se no começo seu uso era pessoal, cada vez mais assume o papel de principal ferramenta para o progresso e a evolução humana, gerando negócios, criando novas alternativas empresariais, alavancando vendas, modificando o uso do automóvel, a produção industrial, o comércio e os serviços.
Não há mais canto da Terra em que seja possível ficar imune aos efeitos da rede de computadores e suas subespécies. Telefone celular, tablet e computadores de todos os tipos e tamanhos estão inseridos na vida das pessoas, pautam seu cotidiano, muitas vezes escondidos, mas sempre capazes de criar as condições para a evolução rápida da sociedade.
Num mundo conectado, com as informações circulando em velocidade cada vez mais rápida, com o acesso ao conhecimento democratizado para um número inimaginável de pessoas, não há como algum setor da vida empresarial ou comercial ficar fora das consequências direta ou indiretamente geradas pelo uso intensivo da tecnologia da informação.
O fenômeno não é tão recente e já atingiu vários setores econômicos, condenando algumas atividades a desaparecerem, outras a se reinventarem, enquanto outras foram criadas em cima da nova realidade, modificando profundamente as relações humanas e, mais recentemente, a realidade das coisas.
Neste cenário, não há como tentar impedir que a força da tecnologia da informação atinja algum setor ou profissão. Não é mais possível preservar certos monopólios ou hábitos que pautavam determinadas atividades.
Em alguns campos os avanços foram mais rápidos. É assim que a indústria do turismo foi virada de ponta cabeça, o uso compartilhado de veículos vai alterando o perfil do setor automobilístico e a locação de imóveis apresenta desenhos inéditos, mais baratos e mais eficientes.
Até agora o setor de seguros não aderiu massivamente às novas práticas. A venda das apólices já é feita através da internet, mas ainda está longe de atingir patamares comparáveis aos acima, mesmo nos países onde os negócios são intensamente realizados através dos canais eletrônicos.
Não cabe aqui discutir as razões para isso. O que é preciso ressaltar é que, em algum momento, com as novas gerações entrando no mercado, esta mudança deverá se acelerar. O fundamental é que, quando isso ocorrer, as regras para seu funcionamento estejam consolidadas e colocadas ao alcance de todos de forma clara e de fácil acesso.
A internet pode ser uma arapuca eficientíssima. O acesso a milhões de pessoas mais ou menos preparadas para sua utilização é praticamente ilimitado e campanhas eficientes de publicidade podem levar um número absurdo de compradores a serem enganados ou passados para trás.
O seguro se baseia numa regra simples, chamada mutualismo, que é magistralmente definida no grito de guerra dos Três Mosqueteiros: “um por todos, todos por um”.
O que o seguro faz é associar o ser humano ao seu vizinho com o objetivo de somarem recursos para minimizar os impactos negativos que determinados eventos podem ter sobre sua existência.
Assim, é necessária uma vigilância constante sobre a comercialização de seguros através da internet. Nela não é complicado, nem difícil, alguém que não é se passar por quem é.
O resultado pode ser o prejuízo de milhares de pessoas porque quem vendeu a proteção não oferecia as garantias para operar como seguradora.
Na internet é possível a venda direta de seguros pelas seguradoras. É possível a venda através de corretores de seguros. É possível a venda através de outros agentes. A questão é quem é quem e como impedir que vendas ilegais ou mentirosas alcancem o público.
Fonte: Antonio Penteado Mendonça, O Estado de São Paulo – 22/05/2017